Discurso de Dilma Rousseff

II Cumbre de la CELAC
Comunidade dos Países Latino-Americanos e Caribenhos, a nossa Celac, Senhor secretário-geral da ONU. Ao cumprimentar o senhor Ban Ki-moon, cumprimento e saúdo os dirigentes dos organismos internacionais aqui presentes. Senhoras e senhores ministros de Estado e integrantes das delegações dos países-membros da Celac e convidados especiais, Senhoras e senhores,

Quero, em primeiro lugar, agradecer ao governo cubano, na pessoa do presidente Raúl Castro, pela hospitalidade com que fomos recebidos, e felicitar a qualidade da organização deste evento. É uma alegria estar em Havana, lado a lado com os meus colegas latino-americanos e caribenhos. O Brasil gostaria de reconhecer, aqui e agora, o êxito alcançado por Cuba à frente da presidência da Celac. Sei que meu sentimento é compartilhado por todos aqueles que nunca se conformaram em ver Cuba excluída dos fóruns regionais e multilaterais. A presidência de Cuba na Celac mostrou, mais uma vez, o quanto é anacrônica essa exclusão à qual o Brasil sempre se opôs. Criticamos com empenho a política de bloqueio a Cuba. Temos a convicção que não haverá verdadeira integração econômica na América Latina e no Caribe sem Cuba.

Ontem tive o prazer de inaugurar, com o presidente Raúl Castro, o megaporto terminal de contêineres de Mariel, um dos maiores da região, construído por um consórcio cubano-brasileiro, com financiamento do meu país. É um porto com 18 metros de calado e com capacidade para operar navios de grande porte, os chamados Super Post-Panamax. Sem dúvida, este porto é um exemplo concreto das possibilidades da cooperação e da integração latino-americana. Com ele, fica claro que não só a cooperação é possível, como é necessária uma política de convergência que reduza as assimetrias entre nossos países.

Senhoras e senhores chefes de Estado e de Governo,

Até cinco anos atrás, os chefes de Estado e de Governo da América Latina e do Caribe nunca se haviam reunido de forma exclusiva. A reunião que lançou o projeto Celac, realizada na Bahia, no Brasil, em 2008, marcou esse encontro histórico e inédito. É inacreditável que tenhamos esperado 500 anos para que isso acontecesse.

Nesses últimos cinco anos, avançamos a passos firmes na construção de consensos regionais. Consensos que são muito necessários devido à nossa diversidade. Somos uma região de extraordinária variedade étnica, cultural e geográfica. Optamos por modelos políticos e econômicos diversificados, o que exige diálogo respeitoso e consensos cuidadosamente construídos. Estamos unidos em muitas coisas: estamos unidos no combate à pobreza; estamos unidos na busca do desenvolvimento econômico; estamos unidos na criação e geração de empregos; estamos incluídos na luta pela paz, na luta contra a discriminação e estamos, sobretudo, incluídos na luta e na busca da prosperidade para os nossos países e região.

Foram esses sentimentos comuns que nos permitiram atravessar, sem maiores sobressaltos, a difícil situação econômica internacional criada pela crise de 2008. O início deste momento de pós-crise que agora vivemos e as turbulências geradas pela redução dos estímulos monetários nos países desenvolvidos, ou seja, pela saída da crise nos países desenvolvidos, torna o tamanho de nossos mercados cada vez mais estratégicos e coloca no centro dos desafios a nossa capacidade de construir, de articular e de criar entre nós ações concretas de cooperação no âmbito da Celac.

A saída definitiva dessa crise requer um enfoque que não privilegie apenas o curto prazo. É natural que, em um ambiente de crise e contaminado pelos seus efeitos adversos, muitas avaliações acabem privilegiando só essa dimensão temporal, ou seja, o curto prazo. É imprescindível, entretanto, resgatar o horizonte de médio e longo prazos para dar suporte aos diagnósticos e às ações necessárias ao crescimento das nossas economias, à criação dos empregos para os nossos povos, à redução das desigualdades sociais. Nessa perspectiva, ainda que as economias desenvolvidas mostrem claros indícios de recuperação, e isso é muito importante e positivo para o comércio internacional, é importante que nós tenhamos a consciência de que nós, as economias em desenvolvimento, as chamadas economias emergentes, continuaremos a desempenhar um papel estratégico.

Estamos falando de países especiais, países que ainda têm e, por muito tempo, terão as maiores oportunidades de investimento e de ampliação do consumo. Somos países que demandam infraestrutura logística diversificada, infraestrutura social e urbana, energia, petróleo, gás, minérios. Somos sociedades em processo de forte mobilidade social, nas quais se constituem novos e dinâmicos mercados internos, integrados por centenas de milhões de consumidores. Assim, é apressada a tese difundida recentemente, segundo a qual depois da crise as economias emergentes e em desenvolvimento serão menos dinâmicas.

Precisamos nos dispor a integrar nossos mercados cada vez mais e a criar fluxos de investimento entre nossos países. A Celac é um poderoso instrumento de aproximação entre nossos Estados-membros. Nossos países têm aprendido a somar suas diferenças. No fundo, a Celac torna o Caribe mais latino-americano, e a América Latina mais caribenha. A Celac é, também, uma ferramenta valiosa para o diálogo da nossa região com o resto do mundo. Nos últimos anos estreitamos relações com atores internacionais os mais diversos, como a União Europeia, a China, a Rússia e o Conselho de Cooperação do Golfo. Alguns documentos a serem adotados durante esta cúpula são o resultado desse processo, como o Plano de Ação para 2014, a criação do Fórum de Cooperação Celac-China e a Declaração de Havana.

Caros amigos e amigas chefes de Estado e de Governo,

Demais presentes,

Gostaria de dizer que o tema escolhido para esta Cúpula é absolutamente central: a luta contra a fome, a pobreza e as desigualdades na América Latina e no Caribe. Acrescento, ainda, que devemos focar nossa ação na ampliação do acesso e na melhoria da qualidade da educação em nossos países, da creche à pós-graduação. Sabemos que a educação é condição para fazer face a um duplo desafio que está diante de nós. Por um lado, moldar nações democráticas, garantindo a perenidade da erradicação da miséria e da pobreza. Por outro, alicerçar o nosso crescimento na tecnologia e na inovação, forjando a entrada de nossos países à chamada “economia do conhecimento”.

Queremos que as economias latino-americanas e do Caribe agreguem valor, inovem em processos e produtos, além de serem grandes produtoras de alimentos, reservas da água doce do mundo, grandes produtoras de minérios e grandes produtoras de energia, petróleo e gás. Nosso objetivo deve ser criar uma geração de jovens latino-americanos que tenham qualidade técnica, criando, também, pesquisadores, cientistas e inovadores em todas as áreas da nossa economia.

Caros chefes de Estado e de Governo,

Nossa região ainda tem muito por fazer, em matéria de inclusão social e redução da desigualdade. Mas é preciso reconhecer, também, que isso é possível, até porque demos passos e temos resultados muito bons a mostrar. A América Latina e o Caribe crescem comprometidos com a distribuição de renda. Segundo os dados da Cepal e da OIT, o percentual de pessoas que viviam na pobreza, na nossa região, caiu, nas últimas décadas, de 48[%] para 28%; a pobreza extrema diminuiu de 22,6[%] para 11,5%. Ao longo dos anos mais recentes de crise econômica mundial, onde ocorreu, talvez, um dos processos mais duros e violentos de redução dos empregos e de diminuição dos investimentos, a América Latina e o Caribe têm mantido capacidade também para atrair investimentos. Até porque é importante sempre lembrar: somos um dos maiores mercados mundiais, um mercado de mais de 600 milhões de pessoas, e devemos ter consciência de sua importância e da urgência de nossa integração em um mundo que tem muito de fragmentação.

Segundo a Unctad, a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento, fomos uma das regiões do mundo que manteve, nos últimos anos, um grande e elevado fluxo de investimento direto. No primeiro semestre de 2013, que tem... onde eu tenho os dados disponíveis, os fluxos de investimento cresceram 35% em relação ao primeiro semestre de 2012. Tudo isso foi possível porque soubemos consolidar as bases de nossas economias com políticas responsáveis, mas sem sacrificar nosso objetivo, que é o de promover o desenvolvimento e reduzir as terríveis desigualdades do nosso continente.

Senhoras e senhores,

Mais do que nunca, o Brasil sente-se hoje parte da América Latina e do Caribe. Compartilhamos uma identidade e uma trajetória histórica comum, e a convicção de que essa experiência será determinante para, juntos, e sem pretensões hegemônicas, enfrentarmos nossos desafios futuros. A integração regional latino-americana e caribenha é um projeto estratégico. É um projeto estratégico tanto do ponto de vista de seu mercado, como do ponto de vista do resgate de sua população por meio do combate à pobreza extrema, à pobreza e a elevação das nossas nações à condição de povos desenvolvidos.

Buscamos para todos os nossos países um melhor lugar na arena internacional. A Celac não impede as relações bilaterais entre os Estados dentro e fora da região, pelo contrário, tem a capacidade de fortalecê-las. Com a integração, criamos sinergias que fortalecem nossos projetos individuais de desenvolvimento. Com a integração, a prosperidade de cada um transforma-se na riqueza de todos

Agradeço, mais uma vez, ao governo de Cuba, aos irmãos Castro. E quero dizer da minha felicidade de estar aqui com um número expressivo de chefes de Estado, de chefes de Governo das nações latino-americanas e caribenhas. Esta reunião é uma reunião histórica, estou certa de que a nossa querida companheira da Costa Rica, a querida Laura Chinchilla, terá o mesmo êxito na presidência da Celac. Desejo a ela grande êxito. O Brasil acredita na Celac.

Cento e trinta anos atrás, José Martí celebrava a emancipação política das ex-colônias ibéricas. Creio que temos sido fiéis a essa emancipação. De colônias passamos à condição de Estados soberanos e hoje avançamos na construção de uma região cada dia mais integrada, uma América nossa, no dizer de José Martí. Região na qual nós, brasileiros, nos sentimos orgulhosos de viver. Finalmente, convido a todos os países, a todas as nações latino-americanas e caribenhas a viver conosco, brasileiros, a experiência da Copa das Copas no Brasil.

Hoje, na abertura, nós tivemos a oportunidade de nos comover com a riqueza da música da nossa região, a nossa diversidade musical, colorida e envolvente. O futebol tem a magia parecida com a da música: é colorido, artístico e envolvente. O Brasil receberá a todos os povos do mundo, e aqui eu quero dizer, em especial aos povos latino-americanos e caribenhos, com quem repartimos a maestria do futebol na nossa região, para comparecer à Copa do Mundo. Serão todos muito bem-vindos.

Obrigada.

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